A capacidade da democracia liberal de resistir ao avanço da direita radical comprova o acerto dos autores e organizadores deste livro ao não se limitarem a um objetivo acadêmico de melhor compreender e explicar o fenômeno. Eles vão além e se propõem à criação de uma rede internacional de estudo e influência nas políticas públicas visando defender, fortalecer e reformar o multilateralismo hoje sob ataque.
– Rubens Ricupero
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O crescimento da direita radical tornou-se um elemento constitutivo do panorama político global desde o início do novo milênio. Os governos autoritários se multiplicam. No auge da globalização dos mercados e das finanças, a voz das armas foi se impondo sobre os canais da diplomacia e do diálogo.
As ciências sociais vêm dedicando enorme atenção à direita radical e suas ramificações. Mas a atenção da maioria dos pesquisadores se concentrou, até agora, sobre as dimensões nacionais desta onda aparentemente incontrolável. Nesta obra, os autores pensam, ao contrário, que é fundamental tentar compreender as conexões transnacionais da direita radical, e seus impactos sobre o sistema multilateral construído desde o fim da Segunda Guerra Mundial. Em 2022 um grupo de acadêmicos e pesquisadores brasileiros criou um programa de estudo e monitoramento do impacto da extrema direita sobre o sistema internacional batizado Mudral – Multilateralismo e Direita Radical na América Latina. Esta obra é uma primeira síntese do trabalho feito até agora, e reúne contribuições de especialistas acadêmicos, pesquisadores, ativistas e jornalistas.
Suas experiências diferenciadas permitem um mergulho nessa realidade para a busca de compreensão e da construção de possíveis mecanismos de resistência. Essa coletânea visa, a partir da experiência concreta brasileira e sul-americana, contribuir com o debate atual sobre a crise da democracia. Os princípios que organizam a vida política e social das democracias contemporâneas – como pluralidade, o secularismo, a proteção das minorias, o direito à livre expressão e à oposição, o balanço de poderes – estão sendo contestados por movimentos transnacionais da direita radical.
Temos que compreender os argumentos, as práticas sociais, as formas de organização e financiamento da direita radical para que se constitua o movimento de resistência democrática. Nesta lógica, o livro contribui também para o debate sobre a crise do multilateralismo, mostrando como as contradições e tensões das instituições multilaterais contemporâneas adquirem voz e expressão nas práticas da direita radical.
– Os organizadores
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SUMÁRIO
PREFÁCIO, Rubens Ricupero
INTRODUÇÃO, Giancarlo Summa e Monica Herz
Cap. 1 – A NOVA CRUZADA: Direita radical vs. democracia, direitos, ONU e cooperação internacional, Monica Herz e Giancarlo Summa
Cap. 2 – REACIONÁRIOS DESCOLADOS: Javier Milei e libertários de extrema direita, Pablo Stefanoni
Cap. 3 – REDES TRANSNACIONAIS DE EXTREMA DIREITA: Um mapeamento de Bruxelas a Washington, de Madri a Brasília, Steven Forti
Cap. 4 – ANTIAMBIENTALISMOS: Direita radical e governança internacional, Flavia de Campos Mello
Cap. 5 – MEMÓRIA COLETIVA NO CONE SUL: Bolsonaro, Milei e a justiça transicional, Andrea Ribeiro Hoffmann e Giancarlo Summa
Cap. 6 – BRASIL SOB BOLSONARO: Política externa da direita radical, Monica Herz
Cap. 7 – O SEQUESTRO DO BARÃO: Instrumentalização da política externa brasileira, Jamil Chade
Cap. 8 – DESMONTE INSTITUCIONAL E INCITAÇÃO À VIOLÊNCIA: A agenda ambiental-climática de Bolsonaro, Terra Friedrich Budini
Cap. 9 – ANOS DE DESTRUIÇÃO: Bolsonaro, a devastação da Amazônia e o Brasil como pária global, Daniela Chiaretti
Cap. 10 – FAKE NEWS SEM FRONTEIRAS: Desinformação nas eleições presidenciais de 2022, Natalia Viana
Cap. 11 – DIREITOS HUMANOS NA ESFERA MULTILATERAL: O tratamento do tema no governo Bolsonaro, Camila Lissa Asano, Carla Cristina Vreche, Gabrielle Martins da Silva, Marina Rongo Barbosa e Maryuri Mora Grisales
Cap. 12 – PRODUTORES DE CRISES E CAPACIDADES DE RESILIÊNCIA: Direitos humanos no espaço regional interamericano, Paulo Abrão
Cap. 13 – A CENTRALIDADE DO GÊNERO: Crises da democracia e do multilateralismo sob Bolsonaro, Andrea Ribeiro Hoffmann e Amanda Cruz
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Sobre os organizadores
Giancarlo Summa
Jornalista e politólogo ítalo-brasileiro, é um dos fundadores do Instituto Latino-Americano para o Multilateralismo (Ilam), no Rio de Janeiro, e do Projeto Mudral (Multilateralismo e a Direita Radical na América Latina). Foi diretor de comunicação da Organização das Nações Unidas (ONU) no Brasil, no México e na África Ocidental. Assessor de comunicação do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) na Europa. Em 2002 e 2006, trabalhou na equipe de comunicação das campanhas eleitorais de Luiz Inácio Lula da Silva. É autor, entre outras obras, de Le rôle politique de la presse au Brésil de l’élection à la réélection de Lula (La Documentation Française, 2009). Foi pesquisador visitante no Departamento de Mídia e Comunicação da London School of Economics and Political Science e membro do Conselho de Desenvolvimento do Institute des Hautes Études de l’Amérique Latine (IHEAL), em Paris. Está preparando uma tese de doutorado sobre a direita radical latino-americana na École des Hautes Études en Sciences Sociales (EHESS), em Paris.
Monica Herz
Coordenadora do Projeto Mudral (Multilateralismo e Direita Radical na América Latina) e uma das fundadoras do Instituto Latino-Americano para o Multilateralismo (Ilam), no Rio de Janeiro. Professora titular do Instituto de Relações Internacionais da PUC-Rio. Doutorado pela London School of Economics and Political Science. Escreveu três livros e diversos artigos sobre governança global, segurança latino-americana e política externa brasileira.