ATENÇÃO: O LIVRO ESTÁ PRÉ-VENDA, OS PEDIDOS SERÃO POSTADOS APÓS 25/11
-*-*-*-
A leitura do presente livro estimulará o avanço da historiografia do comércio escravista luso-atlântico para além do embate entre uma abordagem “triangular” e outra “bilateral”. O autor demonstra o grau de complexidade dos circuitos nos quais se conectavam o capital, as mercadorias e os africanos escravizados. Sua abordagem desse tema clássico desloca o comércio de escravos entre Angola e Brasil do nicho paroquial, a que boa parte da historiografia recente o tem cingido, reconectando-o a um horizonte mais amplo […] dá continuidade à melhor tradição da história econômica brasileira, mas o faz de forma renovada, inclusive pelo tema principal do livro. Nas interpretações clássicas da formação econômica do Brasil, os laços mercantis-escravistas entre Brasil e Angola não receberam a devida atenção. A lacuna foi justamente criticada pela historiografia que passou a se distanciar daquelas interpretações. Maximiliano Menz, embora siga a corrente historiográfica que, nas últimas décadas, tem sublinhado a importância da África na formação socioeconômica do Brasil, o faz articulando o tema aos grandes debates que estiveram no centro da história econômica ocidental, os quais vinham sendo negligenciados por boa parte da historiografia brasileira mais recente. […] o livro que o leitor tem em mãos promete abrir uma nova era de debates de um dos temas mais importantes da história do Brasil, a escravidão, mas em sua relação com o desenvolvimento do capitalismo mundial.
-*-*-*-
Há muito se sabe que, ao longo de sua formação histórica, o Brasil foi o maior receptor de africanos escravizados do mundo moderno. Ser o campeão da escravidão na modernidade certamente não é motivo de honra, mas a necessidade de enfrentar politicamente os legados desse passado nefasto ao menos teve um efeito positivo no campo das ciências sociais históricas. A historiografia produzida em nosso país sobre o tema há um bom tempo tem se destacado por sua originalidade e sofisticação. Trabalhos matriciais como os de Pierre Verger, Luiz Felipe de Alencastro e Manolo Florentino ajudaram a rever alguns dos modelos canônicos sobre o funcionamento do tráfico transatlântico de escravos, ao apontarem para as ligações diretas, bilaterais, entre África e Brasil, algo que teria particularizado nosso sistema escravista em relação às práticas vigentes no colonialismo britânico e francês do Atlântico Norte, fundadas na triangulação entre Europa, África e Caribe.
Lastreado em uma vastíssima pesquisa documental, Maximiliano Menz reabre essa discussão, articulando-a a outro tema de fundo que foi, de certo modo, escamoteado no movimento de revisão
historiográfica sobre o tráfico para o Brasil. Refiro-me às relações entre os negócios negreiros Angola-
Brasil e a formação do capitalismo global. Para tanto, Menz adota um novo caminho, centrado no
exame cerrado das finanças e dos agentes econômicos que tornavam possíveis, a partir do Velho Mundo, as operações de escravização, comercialização e transporte desses seres humanos que aconteciam entre as duas margens do Atlântico Sul. Assim procedendo, o autor fornece argumentos muito convincentes a respeito da centralidade do complexo escravista luso-brasileiro para a formação
do capitalismo no Atlântico Norte.
O desenho do tráfico que emerge das páginas deste livro exemplar aponta tanto para a presença de uma
miríade de pequenos atores participando do negócio, como para a concentração dos investimentos no topo, nas mãos de alguns poucos grandes capitalistas. Com isso, Menz abre a possibilidade de se pensar em um perfil unificado do escravismo luso-brasileiro no Atlântico Sul em todas suas pernas (da escravização na África às propriedades rurais, mineratórias e urbanas na América portuguesa), sempre articulado às forças mais amplas do capitalismo do norte europeu. Ao mesmo tempo em que revê temas e mal-entendidos da historiografia anterior, Menz descortina novas e amplas possibilidades de investigação. Trata-se de um livro que certamente impactará os debates historiográficos sobre o tráfico transatlântico de escravos daqui por diante, com nossa própria marca, nacional e original.
— Rafael Marquese, Universidade de São Paulo
-*-*-*-
SOBRE O AUTOR
Maximiliano Menz
Filho da dona Iara e do seu Walter, marido da Vivian e pai do Santiago, é também professor de História Moderna na Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP). Foi pesquisador visitante no International Institute of Social History (IISG, Amsterdam) e na Universidade de Sevilha. Pesquisa temas relacionados à história do capitalismo, escravidão e colonialismo.