LANÇAMENTO!
A meta deste livro é discutir o que foram as sociedades supostamente “socialistas” do século XX e o que resta delas no presente. O autor chegou a este tópico por um caminho específico, focando-se na dimensão política, o que lhe permitiu uma caracterização ampla. O tipo de sistema social discutido aqui é chamado de “coletivismo autoritário”, que se fundava na estrutura do partido-Estado e no centralismo democrático, configurando um sistema de domínio. De modo geral não sobreviveu até o século XXI, embora em alguns casos a dimensão política específica e, em certa, medida seu Estado tenham sido retidos na transição para uma variante de capitalismo na qual os direitos dos cidadãos são secundarizados, reproduzindo o arcabouço do sistema de domínio anterior.
O sistema político fincado em seu centro ganhou uma sobrevida ao combinar-se com uma espécie de capitalismo calcado no Estado, reminiscente de uma fase anterior da modernidade – organizada pelo Estado –, com a qual o dito “socialismo real” possuía importantes afinidades. Foi então que esse tipo de sistema social mais claramente revelou o quão distante estava do socialismo propriamente dito, malgrado a palavra “socialismo” ser usada para defini-lo.
Uma preocupação subjacente a este livro é a validade e a possibilidade do socialismo como um horizonte de possibilidades, que devem ser em larga medida inéditas – em especial face a seu fracasso histórico nas roupagens do socialismo real ou, como prefiro chamá-lo, coletivismo autoritário. Tem havido certo diálogo tenso e por vezes um debate feroz entre o liberalismo, para não falar do fascismo, e o socialismo, incluindo o comunismo. O socialismo e o comunismo ansiavam por deixar para trás a modernidade, substituindo-a por uma sociedade verdadeiramente “emancipada”. O que ocorreu na prática é o que é investigado aqui, porquanto, para destravar o futuro, seja importante considerar o que aconteceu com o projeto de sociedade emancipada que o socialismo e o comunismo – assim como o anarquismo – lutaram para realizar, não obstante a improbabilidade de movimentos efetivos hoje na direção da construção de uma sociedade socialista.