Este livro é um exemplo do quanto uma formação e um olhar transdisciplinar, somados a uma pesquisa histórico-documental rigorosa, produz bons frutos ao campo das Humanidades. Com escrita clara, “Sífilis, loucura e civilização” traz contribuições robustas para a história das ciências, da medicina e dos saberes psicopatológicos no Brasil. Se este livro tratasse apenas da história de um diagnóstico fundamental para a psicopatologia do século XIX, a paralisia geral progressiva, e suas articulações com a formação de um campo de saber científico, a psiquiatria, ele já seria uma contribuição historiográfica profícua. Afinal, o percurso histórico da doença é revelador dos padrões de objetividade que ramos descritivos desse saber perseguem até hoje. Mas, Giulia faz mais: mostra como a PGP e a sífilis (sua causa), para além de filão central da legitimação de uma psiquiatria carioca de cariz cada vez mais neurológico, figuram no quadro dos debates nacionais sobre civilização, degeneração, raça e moralidade no pré e no pós-abolição. Desta forma, passado e presente se iluminam reciprocamente, tanto no que se refere às controvérsias acerca das facetas neurológicas da sífilis, quanto no que concerne aos enquadres socioculturais e imaginários das doenças venéreas. Graças a este livro, a partir daqui referência, podemos conhecer melhor esta e outras histórias.

Este livro conta parte importante da história de uma das doenças mais antigas do mundo – a sífilis. A partir de meados do século XIX, a medicina passou a reconhecer o potencial que o “mal venéreo” tinha de levar suas vítimas à loucura. Considerada causa principal de uma moléstia nervosa chamada paralisia geral progressiva (PGP), a sífilis preocupava os círculos médicos nacionais. Entre eles, estava uma Psiquiatria que perseguia seu reconhecimento enquanto ciência e lutava pela legitimação de seus saberes como ferramentas fundamentais para a construção de uma nação brasileira moderna, desenvolvida e saudável. A presente obra convida o leitor a se confrontar com as visões de mundo que orientaram a edificação do conhecimento médico-científico sobre as relações entre sífilis, loucura e civilização.

SUMÁRIO

Agradecimentos
Prefácio
Apresentação, André Mota

Capítulo 1: “O inconteste progredir da paralisia geral dos alienados” e os debates sobre os rumos da nação brasileira

Capítulo 2: 68 Sobre “desgraçadas” e “mulatos”: clima, raça e sexualidade no pensamento psiquiátrico da virada dos séculos XIX e XX

Capítulo 3: “Atuando sobre um terreno predisposto”: a sífilis como causa da paralisia geral progressiva

Capítulo 4: 126 Entre agulhas e micróbios: a psiquiatria adentra o laboratório

Capítulo 5: Um “poderoso auxiliar”: a clínica e o laboratório na construção do conhecimento sobre a paralisia geral progressiva

Capítulo 6: “Que psiquiatras e sifilógrafos se congreguem”: a profilaxia da sífilis nervosa nos espaços de assistência a alienados

Considerações finais
Referências

Sobre a autora

Giulia Engel Accorsi é graduada em Ciências Biológicas e Especialização em Ensino de Ciências e Biologia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Concluiu o Mestrado e o Doutorado em História das Ciências e da Saúde na Casa de Oswaldo Cruz/Fiocruz. Atualmente, é bolsista do Programa de Capacitação Institucional do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação. Atuando como produtora de conteúdo e pesquisadora no Canal Ciência, serviço de divulgação científica do Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia. Vem desenvolvendo pesquisas e produtos na área de divulgação científica, com foco em temas como história das ciências, diversidade, educação científica e competência em informação.