O marxismo, como teoria da revolução, sempre apresentou duas grandes carências: para com a filosofia e, sobretudo, para com a psicologia. Sabemos que não sobrava muito tempo para Marx se dedicar a estes temas, embora ele tenha nos concedido bom encaminhamento a respeito. Porém, mesmo assim, tais questões ainda não foram suficientemente digeridas e refletidas pelos marxistas contemporâneos. Faltam estudos críticos que nos permitam pensar adequadamente uma ontologia marxista em toda a sua extensão, e as contribuições existentes tem sido muito pouco duradouras.
No caso dos estudos marxistas sobre a subjetividade, a carência de bons pensadores e teóricos é assustadoramente escassa. Não é de estranhar que muitos marxistas fujam do tema, por que este pressupõe tratar também a questão do ponto de vista do sujeito singular, embora histórico. O medo de deslizar para a “doença” do psicologismo é algo que assusta ao bom pensador marxista. Felizmente, agora se nos apresenta uma excelente contribuição: o trabalho do Prof. Eduardo Vasconcelos, além de preencher este grande vazio teórico, oferece-nos uma sistematização cuidadosa e aprofundada da questão da subjetividade em Marx.
Resultado de pesquisas de uma década, a coleção, nestes três volumes iniciais, nos coloca frente a um novo programa de investigação e reflexão onde categorias são “explodidas” e algumas, propositadamente, não refeitas. Polemizando sempre com o marxismo burocrático e ainda dominante, o novo trabalho do Prof. Vasconcelos nos insere num novo foco de dúvidas, obrigando cada leitor a se definir sobre as questões e as provocações muito bem formuladas e fundamentadas. Se acreditamos num marxismo renovado, sempre doente de incertezas, o desafio agora apresentado nos obriga a ir adiante ou optar pelo comodismo. Repudiar o conteúdo deste volumes é muito fácil; difícil, porém, será refutar os incômodos provocados. — Prof. Dr. Sérgio de Souza Brasil, professor aposentado da UFRJ.