Estudos sobre o Atlântico lusófono são importantes para compreendermos a formação das redes globais dentro das quais nos encontramos hoje, assim como suas tramas históricas, enredos, experiências e disputas políticas. Esse livro oferece ótima contribuição para esses debates, pois destaca o tema dos hospitais, do acolhimento aos doentes e pobres e das práticas médicas, tema, aliás, fundamental em um mundo construído sob a égide da conquista de direitos sociais.

Muito se tem discutido sobre as estruturas do Império português, e parece consenso o lugar ocupado pelas santas casas de misericórdia desde os trabalhos de Charles Boxer. Estudos recentes, no entanto, incorporando o tema dos saberes e
práticas médicas atuando sobre corpos escravizados e outros corpos fundamentais para a organização do Império, indicaram caminhos de pesquisa que permitiram descobrir modos de governar, curar e elaborar conhecimentos que fazem parte da história dos hospitais, da medicina e das práticas de cura no espaço Atlântico lusófono. Este livro pretende contribuir para o avanço dessas pesquisas. Por isso, os textos abordam lugares do Império Atlântico português entre os séculos XVI e as primeiras décadas do século XX, e destacam acontecimentos vinculados à produção de conhecimento e à
organização administrativa de hospitais e instituições de acolhimento e tratamento de doenças nos quais se pode observar marujos, esmoleres, médicos, militares, curandeiros locais, entre muitos outros personagens.

Sumário

Apresentação

PARTE I – Saberes médicos, corpos e doenças no Atlântico lusófono

Capítulo 1 — Dos males e das curas às parcerias malungas: apontamentos sobre a escravidão, o colonialismo e os saberes médico-terapêuticos entre as narrativas do Atlântico Sul (séculos XVIII e XIX), Cristina Wissenbach

Capítulo 2 — Produção e circulação de conhecimentos em dois manuscritos jesuíticos de farmácia e medicina (América Platina, século XVIII), Eliane Cristina Deckmann Fleck

Capítulo 3 — Colônias portuguesas sob as lentes da medicina: a doença do sono na Ilha do Príncipe nos primeiros anos do século XX, Ewerton Luiz Figueiredo Moura da Silva

Capítulo 4 — Homens e mulheres como cuidadores do corpo nos hospitais portugueses (séculos XVI-XVIII), Isabel dos Guimarães Sá

Capítulo 5 — Corpos marujos: saber médico, doenças e efeitos do trabalho na saúde de tripulantes no Atlântico Lusófono (séculos XVIII e XIX), Jaime Rodrigues

Capítulo 6 — Médicos, hospitais e medicamentos: prática médica europeia em Angola, Kalle Kananoja

Capítulo 7 — Assistência hospitalar, saúde pública e práticas médicas
nas ilhas atlânticas no século XIX: notas sobre os Açores
Susana Serpa Silva

PARTE II – Instituições de acolhimento, caridade e assistência à saúde no Atlântico lusófono: administração e funcionamento

Capítulo 8 — Assistência hospitalar em Portugal no século XIX: entre o público e o privado, Ana Isabel Coelho Silva

Capítulo 9 — Caridade e filantropia na história dos hospitais brasileiros, Ana Nemi

Capítulo 10 — Hospitais no espaço Atlântico do século XIX: Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre, Beatriz Teixeira Weber

Capítulo 11 — História dos hospitais, história de uma cidade – Valença (RJ), século XIX, Gisele Sanglard

Capítulo 12 — Estruturas médico-hospitalares nos domínios portugueses da África subsaariana (séculos XV a XVIII),
Jaime Ricardo Gouveia

Capítulo 13 — Os Recolhimentos do Porto e da Bahia e o Burgerweeshuis de Amsterdam: a assistência institucional às meninas órfãs em espaços urbanos católicos e protestantes entre os séculos XVI e XVIII, uma análise preliminar, Luciana Mendes Gandelman

Capítulo 14 — A “militarização da caridade” de São Paulo no século XIX, Mirna Brito Santana

Capítulo 15 — Caritas numquam excidit: o Hospital da Misericórdia da Bahia no período colonial, Nuno de Pinho Falcão

Capítulo 16 — Das obras de Misericórdia à medicina política: Santas Casas, hospitais civis e militares na América portuguesa, séculos XVI-XVIII, Renato Franco

SOBRE AS ORGANIZADORAS E ORGANIZADOR