Leia a resenha feita por Bernardo Ricupero
Ações, processos e instituições não existem sem as interpretações que as acompanham. Estão em relações reflexivas. Esta é a agenda de debates proposta pela coleção Pensamento Político-Social, que publica títulos relevantes sobre interpretações clássicas e contemporâneas da sociedade brasileira e outras, em suas muitas formas e variados suportes. Queremos contribuir para a compreensão dos desafios históricos e atuais da sociedade e da cultura, bem como para uma nova compreensão menos minimalista da política. Uma abordagem interseccional que nos ajude a reconstruir visões renovadas de conjunto.
— André Botelho, Elide Rugai Bastos, Gabriela Nunes Ferreira e Maurício Hoelz
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A capacidade de automonitoramento reflexivo é uma das componentes mais distintivas das ciências sociais. Elas reexaminam constantemente suas realizações e, desse modo, se repensam. Este é um mecanismo crucial no avanço do conhecimento científico. No Brasil, esse papel vem sendo realizado notavelmente pela área de pensamento social. Fernando Henrique Cardoso num ensaio memorável de 1993 foi um dos que lançou o problema, estudando os “livros que inventaram o Brasil”. Pois, bem, agora chegou a vez da sua obra ser repensada.
Karim Abdalla Helayel nos apresenta a mais completa e a mais consistente intepretação do importante sociólogo que ajudou a colocar as ciências sociais brasileiras no mundo. E o mundo nas ciências sociais brasileiras. A Teoria da Dependência de Cardoso é ainda hoje um paradigma incontornável para as ciências sociais e as teorias da modernização, com seus impasses e eventuais dificuldades e limites, inclusive. A capacidade de automonitoramento reflexivo é uma das componentes mais distintivas das ciências sociais. Elas reexaminam constantemente suas realizações e, desse modo, se repensam. Este é um mecanismo crucial no avanço do conhecimento científico.
No Brasil, esse papel vem sendo realizado notavelmente pela área de pensamento social. Fernando Henrique Cardoso num ensaio memorável de 1993 foi um dos que lançou o problema, estudando os “livros que inventaram o Brasil”. Pois, bem, agora chegou a vez da sua obra ser repensada. Tomando como eixo da análise as relações complexas entre história e teoria, Helayel explora novas faces da obra sociológica de Cardoso em seu contexto, mas a reconstituição aqui é apenas parte de um método, e não um objetivo em si mesmo.
O desafio do livro é mostrar os sentidos teóricos mais duradouros das formulações de Cardoso e sua capacidade de nos interpelar também contemporaneamente. O autor enfrenta magnificamente a tarefa tão complexa. Conseguimos compreender a relevância e o significado da sociologia de Fernando Henrique Cardoso no seu e para o nosso tempo. Até porque uma das categorias centrais da análise é justamente a de processo social, que permite pensar o particular e o geral, o contingente e o estrutural, a escolha e os condicionantes históricos, de modo articulado.
Fernando Henrique estava merecendo um estudo com essa envergadura e qualidade. O livro não simplifica a relação autor e obra, ou indivíduo e sociedade, explicando a obra pela biografia. Mas os interessados na notável trajetória política deste ator central do nosso tempo e presidente do Brasil encontrarão elementos suficientes no livro para compreender como, nesse caso, um grande intelectual, um grande sociólogo, se escondia por trás do político.
— André Botelho (UFRJ)
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SUMÁRIO
Prefácio
Introdução, Fernando Henrique Cardoso entre a teoria e a história
Capítulo 1: Dois irmãos: divergências sobre teoria e história
— Um imperativo sociológico: a questão da historicidade
— Raízes do Rio Grande do Sul
— Raízes do Vale do Paraíba: a crítica ao “patrimonialismo”
— Desdobramentos da controvérsia
Capítulo 2: Nossos Buddenbrook: sobre a burguesia brasileira
— A imagem de uma “sociedade em movimento”
— Industrialização à brasileira: ramais e caminhos
— O problema do protagonista: o caso da burguesia industrial brasileira
Capítulo 3: Teoria, história e comparação no debate da dependência: momentos decisivos
— A dependência e a equação analítica “teoria, história e comparação”
— Para uma cartografia da mudança social na América Latina
— Historicizar e comparar: movimentos complementares
— A relação entre teoria e história e o “quiproquó” da dependência
Capítulo 4: Noturno do Brasil: Fernando Henrique Cardoso e a ciência política
— Ciência política no Brasil e sociologia histórico-comparada
— O café e o “povo”
— A arquitetura de Política e desenvolvimento: “ideologias” e “estruturas”
— “Por meio da história a teoria se faz vida”: o diagnóstico da “paralisia decisória”
— O Estado e a revolução com aspas
Capítulo 5: Entre afinidades e diferenças: limites históricos da teoria sociológica
— Do mais próximo ao mais remoto
— O “resgate” da história
— Empresários entre si
Considerações finais: Uma história alternativa da sociologia histórica?
Referências
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Sobre o autor, Karim Abdalla Helayel
Graduado em Ciências Sociais, com mestrado e doutorado em Sociologia pelo Programa de Pós-Graduação em Sociologia e Antropologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (PPGSA/UFRJ). Atualmente realiza estágio de pós-doutorado na mesma instituição, desenvolvendo pesquisa sobre a relação entre teoria, história e comparação na sociologia latinoamericana, com bolsa concedida pelo CNPq.