“Caminante no hay camino, se hace camino al andar.
Al andar se hace camino y al volver la vista atrás se
ve la senda que nunca se ha de volver a pisar”
(Antonio Machado)
E que seria dos caminhantes e andantes pelas trilhas da saúde mental, se não pudéssemos ter valises, apontamentos,
sinais que nos ajudassem a escolher onde pisar? Escrevendo o impossível: cadernos de um psicanalista na saúde mental, de Ricardo Azevedo Pacheco, é uma contribuição corajosa, viva, das andanças de um psicanalista pelas trilhas da saúde mental: suas agruras, seus percalços, suas belezas. Sem prescrições, Ricardo reflete sobre seus próprios caminhos, compartilha emoções e reflexões. Acompanhamos suas andanças quase como uma dança: são dois pra cá, dois pra lá. Estético, ético e político, um texto urgente para não desistirmos de sonhar.
– Rosana Onocko Campos
Formador de jovens psiquiatras e supervisor clínico-institucional de serviços no campo da saúde mental, o autor nos conta, neste livro que resultou de sua tese de doutoramento, um tanto de seu périplo na borda do impossível entre educar e governar. Por meio da filosofia, literatura e psicanálise, encontramos Foucault, Benjamin, Agamben, Derrida, Baudelaire e Kafka imbricados em seu texto. Assim, inspiram sua narrativa e fundamentam seu ofício de “intelectual específico”, designação de Foucault, como aquele que deve produzir uma nova comunidade entre equipe, aluno, residente, supervisor e formador, todos em queda. É a comunidade que vem, segundo Agamben. Sua escrita pretende seguir o estilo “desloucado” de Kafka, como disse Carone, para ser “cortante como aço”. Mas o resultado final é de um texto po-ético que dança a sua coreografia num bailado de palavras que embriagam o leitor entre o belo e o traumático do contemporâneo.
— Ana Cristina Figueiredo
Sobre o autor
Ricardo Azevedo Pacheco
Mineiro de nascença. Campineiro de morada. Paulistano de coração. Estrangeiro sempre. Nunca fui um cara de caixinhas, tampouco de pisar com os dois pés num lugar só. A saúde mental e o consultório. A psiquiatria e a psicanálise. Supervisão e formação. Ensino e a transmissão. O público e o privado. Uma vez considerei possível Ricardo Azevedo Pacheco construir pontes. Hoje não mais, por estar advertido que, em todo percurso, topamos com impotências e impossibilidades, verdadeiros buracos. Se entendermos, porém, que tal percurso se dá por leituras das letras que marcam as voltas a mais em torno desses buracos, ele não é desesperançoso. Diria que essas marcas de leitura muito mais me leem do que eu as agencio. Há que se apostar que tais letras fazem seu bailado, materializando os passos seguintes. Gosto de pensar um psicanalista assim, na estética desse transito, o lugar e o tempo em que, às vezes, ele acontece. Esse livro, se pudesse ser revirado, é, na outra sua face, biografia.
Ele é um pedaço de vida.