“O século XVIII chamou de felicidade pública”, nos lembra Hannah Arendt, aquele momento em que “o homem toma parte da vida pública, dimensão da experiência humana abrindo para si uma que de outra forma ficaria fechada”. Sem essa experiência, conclui a pensadora, não se pode alcançar a “felicidade completa”. (Crises da República. São Paulo: Perspectiva, 2015, p. 175).
A democracia, assunto desta coletânea, é o palco no qual os cidadãos, com liberdade plena, falam e agem na busca de um futuro que seja melhor do que o presente Portanto, só a democracia pode criar as condições para a “felicidade completa”.
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“A democracia não é, evidentemente, a única possibilidade desta época de crise em nossa história. (…). Existem possibilidades de regressão ao autoritarismo e mesmo possibilidades que, se não são de regressão, são de coisa ainda pior do que tudo que já vimos até aqui (…). Não creio que se possa negar que a democracia é o único caminho que pode levar à modernidade”. (WEFFORT, F. C. Notas sobre a democracia e a modernidade na América Latina em crise. Lua Nova, São Paulo, n. 21, pp. 5-40, set., 1990).
Essa advertência é especialmente pertinente, porque a América Latina passou por diversas ditaduras militares e autoritarismos ao longo do século XX. Ademais, é um alerta quanto aos percalços da lenta transição para a democracia. Embora complexa e incompleta em muitos casos, essa passagem tem sido vista como um passo essencial para o desenvolvimento político, econômico e social da região. Em outras palavras, o cientista político destaca a democracia como a única via que pode levar, de fato, à modernidade.
Assim sendo, a complexa transformação modernizante, aqui mencionada, não pode se restringir ao aumento da riqueza, tampouco à equivalência nefasta entre cidadania e capacidade de consumo, desconsiderando as liberdades fundamentais. Modernidade significa uma democracia robusta que é capaz de abrir caminhos em direção a um futuro com menos desigualdades, baseado na promoção de valores como a participação cidadã, a transparência, a responsabilização dos governantes, o amplo acesso à educação e à cultura, bem como a defesa dos direitos humanos, todos essenciais para um desenvolvimento sustentável.
Inspirando-se nessas premissas, os autores reunidos nesta coletânea, com formações e pontos de vista diversos, trilharam caminhos que eles próprios escolheram, problematizando temas e objetos inerentes à questão democrática.
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Sumário
Apresentação
Capítulo 1: O Outono da Democracia/Esfera Pública e a Metamorfose do Intelectual Público, Alcides Freire Ramos
Capítulo 2: Cidadania Romana, Oportunidades e Contradições: Uma Leitura sobre o Caso dos Libertos à Época do Império, Pedro Paulo A. Funari e Felipe Noé da Silva
Capítulo 3: O Corpo Político em David Hume e Hannah Arendt: entre a Espontaneidade-Cega e as Leis da Natureza e da História, Gerson Leite de Moraes
Capítulo 4: Ecos e Contraecos da Religião na Política e Vice-Versa, João Clemente de Souza Neto
Capítulo 5: O Estado Político Brasileiro e as Biopolíticas Educacionais, Marcelo Martins Bueno e Wesley Espinosa Santana
Capítulo 6: A Cena Teatral Paulistana e a Construção de Espaços de Cultura – Cidadania – Democracia, Rosangela Patriota
Capítulo 7: Pesquisa e Pensamento Crítico: Questões à Luz do Teatro de Oduvaldo Vianna Filho no Cinquentenário de sua Morte, Maria Sílvia Betti
Capítulo 8: “Que País é Esse?” Avacalhação como Espaço Político no Brasil, Thaís Leão Vieira
Capítulo 9: Pertencimento e Consumo: Os Riscos para uma Moda Sustentável, Mônica Abed Zaher
Capítulo 10: A Cidade e os 40 anos do “Maior São João do Mundo”: Memória e Patrimônio de Campina Grande em Cordéis Comemorativos, Eduardo Roberto Jordão Knack
Capítulo 11: Notas sobre Cultura, Educação e Democracia no Projeto Intelectual de Raymond Williams, Robson Pereira da Silva
Capítulo 12: Aprendendo em Campo Minado: Historicidade da Pedagogia Neotecnicista da Atualidade, Ítalo Nelli Borges
Capítulo 13: O Conceito de Autonomia em Jan Amós Comenius e Paulo Freire como Categoria de Análise para a Base Nacional Comum Curricular (BNCC), Sérgio Ribeiro Santos
Capítulo 14: Historiografia e Metodologias: Registros/Documentos sob as Lentes dos Historiadores do Imediato e dos Jornalistas, Rosana M. P. B. Schwartz
Sobre as autoras e os autores
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SOBRE A ORGANIZAÇÃO
Rosangela Patriota
Professora Assistente Doutora no Programa de Pós-Graduação em Educação, Artes e História da Cultura (PPGEAHC) da Universidade Presbiteriana Mackenzie. É pesquisadora do CNPq nível 1C. É autora de Vianinha – um dramaturgo no coração de seu tempo (São Paulo: Hucitec, 1999); A Crítica de um Teatro Crítico (São Paulo: Perspectiva, 2007); Teatro Brasileiro: Ideias de uma História (São Paulo: Perspectiva, 2012, em coautoria com J. Guinsburg); História e Teatro: Discussões para o Tempo Presente (São Paulo: Edições Verona, 2013, ebook), Antonio Fagundes no palco da história: um ator (São Paulo: Perspectiva, 2018).
Alcides Freire Ramos
Bacharel e Licenciado em História pela Universidade de São Paulo (1986) e Doutor em História pela mesma instituição (1996). É Professor Titular (aposentado) da Universidade Federal de Uberlândia. Desde 2003, é bolsista Produtividade do CNPq, nível 1D. É vice-líder da Rede Internacional de Pesquisa em História e Culturas no Mundo Contemporâneo. É autor de livros autorais: Cinema e História do Brasil [4ª. ed. (revisada) São Paulo: Edições Verona, 2013], em colaboração com Jean-Claude Bernardet e Canibalismo dos Fracos (Bauru: EDUSC, 2002).
Gerson Leite de Moraes
Professor Doutor Adjunto I, da Universidade Presbiteriana Mackenzie/SP, trabalhando no Programa de Pós-Graduação em Educação, Arte e História da Cultura. Bacharel e Licenciado em Filosofia pela Universidade de São Paulo (FFLCH/USP). Bacharel e Licenciado em História pela UNAR. Bacharel em Teologia pela Universidade Presbiteriana Mackenzie/SP. Mestre em Filosofia pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas/SP (PUCCAMP). Doutor em Ciências da Religião pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo/SP (PUCSP), Doutor em Filosofia pela Universidade Estadual de Campinas/SP (IFCH/UNICAMP).