Já nas primeiras páginas, João Antonio nos recepciona com um presente que nos enche de alegria: homenageia Tamás Szmrecsányi e Wilson Suzigan, fundadores da Associação Brasileira de Pesquisadores em História Econômica, ABPHE. Prestar um tributo aos mestres que nos antecederam, com os quais aprendemos o nosso ofício de historiadores econômicos e de pensadores econômicos é um ato de reconhecimento da nossa historicidade, é um ato que nos humaniza. Ao lado dessas duas homenagens, João Antonio inclui uma homenagem visível na escolha do título do seu livro – — Capítulos de história do pensamento econômico do Brasil.
Logo, o autor nos leva a Capistrano de Abreu, o mestre renovador da História do Brasil, o “quebrador dos quadros de ferro de Varnhagen” nos Capítulos de história colonial em que decifrou vida, o povoamento, os costumes, a produção, o consumo, os caminhos de terra e de água por onde seguiam as gentes, os animais e as coisas. Ao compor o livro, a ideia de João Antonio foi reunir alguns dos seus textos dispersos para que formassem uma unidade em um único livro, propiciando ao público leitor a chance de apreciar de forma integrada sua concepção do nascimento e do desenvolvimento da histórica do pensamento econômico do Brasil.
Com o título Capítulos, o autor quer também indicar que a obra não se propõe a ser um exaustivo inventário das ideias econômicas difundidas e produzidas no país. Outro elemento que chama a atenção é a ênfase que o autor imprime à expressão do Brasil no título, indicando que está convencido de que “existe um pensamento econômico resultante das linhas de força da cultura brasileira”. Ao lado das ideias econômicas oriundas da difusão e da circulação de ideias trazidas de fora, existe a formulação do pensamento sobre os processos econômicos internos específicos do país. Assim, não só se absorvem as ideias alheias e de outras paragens, mas se é capaz de criar e de produzir um pensamento próprio sobre as formas, as características e as tendências da organização social e econômica do Brasil.
O que João Antonio nos oferece não é nada trivial. Mostra que existe um pensamento econômico do Brasil desde, pelo menos, o século XVI e que há uma história do pensamento econômico do Brasil, no mínimo, desde o século XIX. Neste sentido a cultura brasileira “não foi apenas receptáculo de ideias adventícias, mas é capaz de produzir pensamento autônomo fruto do modo singular como os brasileiros constroem o seu modo de estar no mundo”. O livro é uma construção original do Pensamento Econômico e da História do Pensamento Econômico do Brasil. Traz a visão erudita e criativa do seu autor e, ao mesmo tempo, instiga a polêmica, a reflexão e o debate.
— do Prefácio, de Maria Alice Rosa Ribeiro