O surto de Zika no Brasil levou ao nascimento de milhares de crianças com grave deficiência cerebral: a síndrome congênita do Zika. Apesar das doenças transmitidas por mosquitos afetarem toda a sociedade — como a febre amarela, a dengue, a chikungunya e o Zika —, essas crianças nasceram quase exclusivamente de mulheres pobres e, geralmente, não brancas. Vírus, Mosquitos e Injustiça Reprodutiva explora as disparidades de saúde e a injustiça reprodutiva que conduziram à distribuição altamente distorcida de crianças nascidas com a síndrome congênita do Zika.
O livro examina a história do surto de Zika no Brasil e liga-o a questões mais amplas relativas aos direitos reprodutivos, às respostas científicas, médicas e de saúde pública aos novos agentes patogênicos, ao papel das organizações internacionais de saúde no combate — ou na ignorância — das crises de saúde pública e às consequências de dramáticas desigualdades nos cuidados de saúde no Brasil. Este estudo argumenta que é o efeito desproporcional do Zika sobre os nascimentos entre as populações vulneráveis e, principalmente, uma função das disparidades dramáticas no acesso das mulheres à contracepção, aos cuidados pré-natais e à criminalização do aborto no Brasil: apenas as mulheres mais ricas têm a possibilidade de interromper uma gravidez com segurança. O livro, assim, argumenta de forma persuasiva que uma epidemia é simultaneamente um evento biológico e político que, no caso do Zika, foi produzido por um complexo emaranhado de humanos, vírus e mosquitos.
Sobre a autora
Ilana Löwy é pesquisadora do Centro Nacional Francês de Pesquisa Científica (CNRS). Formada em biologia e em história da ciência e da
medicina, a sua investigação as investigações laboratoriais concentra-se na relação entre e as práticas clínicas durante o século XX.
Sumário
Agradecimentos
Prefácio
Um vírus esquecido e memórias expurgadas
Introdução
Enquadrando uma epidemia
Capítulo 1: Vírus e mosquitos: da febre amarela ao Zika
Capítulo 2: Fetos: mulheres, médicos e a lei
Capítulo 3: Surpresas: “Eu nunca vi nada parecido”
Capítulo 4: Zika no Brasil: produzindo conhecimento parcial
Capítulo 5: Reprodução estratificada: classe, etnia e risco
Capítulo 6: Mães de micro: Zika e cuidados maternais
Capítulo 7: Depois do Zika: perguntas em aberto, legado complexo
Conclusão
Desigualdade Corporificada
Leituras adicionais
Notas
Índice remissivo