O leitor encontra neste ensaio de Mariana Chaguri uma contribuição das mais expressivas para compreender o universo literário de José Lins do Rego. E isto não apenas porque a autora deslinda, com recursos que aliam pesquisa cerrada e intuição criadora, os temas mais vivos hoje no centro da fortuna crítica do autor do Menino de engenho.
Mas, sobretudo, porque o curso leve de sua escrita, inteiramente avesso ao pesado jargão do discurso acadêmico, refaz com elegância e clareza o controverso itinerário do escritor, desde a fase inicial das disputas, no Recife, entre regionalistas e futuristas, ainda sob a influência intelectual do mestre Gilberto Freyre, até à fase da merecida consagração literária, já no Rio de Janeiro, quando se transforma numa estrela de ponta do célebre catálogo da Editora José Olympio.
Com a novidade de que, entre um momento e outro, o ensaio vai re-iluminando as projeções da memória, desdobrada a partir da ficção, mas também da história, – a das ideias e a do homem, – coisa que poucas vezes, como aqui, se pode ver tão bem desenvolvida, seja na crônica de Lins do Rego, seja na articulação de sua narrativa ficcional, seja ainda nos temas ainda pouco visitados de seu legado crítico. Por Antônio Arnoni Prado