Estrada Alta: 30 anos do Studio Stanislavski | Celina Sodré, Daniel Schenker, Dinah de Oliveira & Henrique Gusmão (orgs.)

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Descrição

Título: Estrada Alta: 30 anos do Studio Stanislavski do século XXI
Organizadores: Celina Sodré, Daniel Schenker, Dinah de Oliveira & Henrique Gusmão
ISBN: 9788584043897
Editora: Hucitec
Edição: 1. Edição
Data de publicação: 2024
Páginas: 240
Tamanho: 21 cm x 24 cm x 4 cm
Peso: 1,2kg

Informação adicional

Peso 0,813 kg
Dimensões 21 × 24 × 3 cm

SUMÁRIO

Prefácio: A Aventura do Studio Stanislavski por Henrique Gusmão

1. Grotowski: uma avalanche, Conversa com Celina Sodré

2. O realismo atmosférico, Conversa com José Dias

3. Um ator psicanalítico, Conversa com Miguel Lunardi

4. As (des)montagens de Shakespeare ou “Paralelo ao experimental”, Conversa com Bruce Gomlevsky e Joana Levi

5. Biombo transparente, Conversa com Daniel Schenker

6. A criação é alguma coisa que se Reserva no não saber, Conversa com Fábio Porchat

7. O trabalho no risco do segredo, Conversa com Branca Temer, Bruna Felix, Evelin Reginaldo e Mariana Rosa

8. Wim Wenders e Aprendenders, Conversa com Angela Blazo, Conrado Nilo, Douglas Resende e Michael Sodré

9. Posfácio: Instituto do Ator: uma Reserva por Celina Sodré

10. Lista de Espetáculos

11. Índice de Fotos Coloridas

 


 

Em 1911, Georg Simmel lança o livro A Aventura, dedicando-se à reflexão sobre experiências que aconteceriam num desvio do curso corriqueiro da vida. Nos trajetos inesperados que revelariam aspectos distintos da vivência cotidiana é que teríamos a situação da aventura.

Já interessavam a Simmel, naquele momento, as noções de movimento e travessia, fazendo com que, anos depois, ele discutisse a ideia de “estrada”, um artefato unicamente produzido por humanos que estruturam percursos transformadores a serem enfrentados por aqueles que se dispõe a por ali passar. Ao mesmo tempo que desviante, a aventura teria a capacidade de se instalar na vida e revelar algo que estaria no seu centro. Entre o desvio e o fundamento, a experiência aventureira teria um tipo de densidade muito particular.

Mais de cem anos depois, Giorgio Agamben publica um livro com o mesmo título escolhido por Simmel e, no interior de seu exercício de arqueologia da noção de aventura, que passa por pensadores como Dante, Goethe e Hegel, dedica-se também às concepções simmelianas. Retomando-as, Agamben entende que uma das características da boa aventura seria
sua necessidade fundamental de, após experienciada, ser relatada. Nas páginas que se seguem, vamos relatar uma boa aventura. A de uma companhia de teatro experimental que funciona há 30 anos ininterruptamente no Rio de Janeiro e que, de diferentes formas, dedica-se a percursos transformadores.

Trata-se do Studio Stanislavski, fundado por Celina Sodré em 1991. Naquele período, o teatro experimental vivia um momento alto. Ainda sob o efeito da forte onda da contracultura, que transformou as concepções de arte nos anos 1960 e 1970, logo após os transgressores anos 1980, os artistas de teatro viviam um ambiente de liberdade para a experimentação onde muitas obras potentes eram produzidas.

Foi então que surgiu o Studio Stanislavski, colaborando e dialogando com este ambiente que, rapidamente, se
transformava. De lá para cá, inúmeras foram as iniciativas levadas adiante. Dezenas de espetáculos foram montados nos mais diferentes teatros do Rio, do Brasil e do mundo, pequenos estudos foram mostrados para poucos espectadores, oficinas foram realizadas com artistas brasileiros e estrangeiros, criou-se um espaço de formação e aperfeiçoamento
artístico.

Esta aventura tem origem em outras anteriores, de enorme poder transformador. Na Rússia da virada do século XX iniciava-se uma delas, que, até hoje, segue em processo e dá sentido e nome ao Studio: a revolução stanislavskiana. Buscando os caminhos para a construção de uma atuação que, de fato, trouxesse para o palco o frescor da vida, Constantin Stanislavski desenvolveu uma série de procedimentos, orientações e, principalmente, princípios que alteraram a forma como se entendia a milenar arte da atuação. O impacto provocado no mundo é enorme e, poucos anos depois de sua morte, Jerzy Grotowski, respondendo à pesquisa deixada por Stanislavski, avança mais algumas
casas nesse jogo que tem como regra fundamental o entendimento do comportamento humano e a função da arte no mundo.

Bebendo nessas fontes, o trabalho do Studio Stanislavski seguiu e envolveu um impressionante número de artistas. De fato, passaram muitas pessoas pela companhia, algumas ficaram mais tempo, outras atuaram em apenas um espetáculo, diversos foram os alunos que frequentaram cursos e oficinas, muitos aqui se formaram. Tentando dar conta de
uma história com tantos personagens, optamos por um formato de livro orientado por conversas. Este parece o melhor modelo para se contar um enredo cheio de idas e vindas, com atravessamentos os mais diversos e que deve passar por muitas vozes. Numa conversa, mais do que num texto escrito, é possível assumir a importância dos silêncios, das hesitações, das trocas de olhares cúmplices, como tão bem se explora no cinema, por exemplo, num filme de Antonioni que, não por acaso, se chama (mais uma vez) A Aventura.

Por fim, vale voltar à imagem da estrada, que já interessava a Simmel no momento em que ele se perguntava sobre a experiência aventureira. Estrada e aventura possuem diversos pontos de contato, sendo a estrada um lugar propício para a fuga dos lugares habituais e confortáveis, ao mesmo tempo que uma aventura pode ser comparada ao trajeto transformador que uma estrada oferece àqueles que por ela passam. Grotowski, um enorme aventureiro, pensa na figura da “estrada alta”, localizada em outro lugar, mais elevado, com maior possibilidade de se ver o mundo de cima, com mais risco. Foi circulando por essa estrada alta que nós, os quatro organizadores deste livro, vivemos uma aventura que nos transformou e hoje nos leva a contá-la. Esperamos que seu potencial transformador também reverbere neste livro, oferecido ao público, a quem desejamos, com a leitura das
conversas a seguir, uma boa aventura.

Henrique Gusmão
Rio, novembro de 2023

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