Ainda são escassos os trabalhos sobre o teatro popular brasileiro, diante do fundamental papel que representou para a nossa cultura. Raros os que se aventuram a pesquisar piadas, mulatas, chistes, sambas, malandragens, vedetes, danças. Bravos os que defendem e protegem do tempo o material concreto (textos, fotos, partituras) que nos restou. Mais raros e bravos ainda os que lançam, sobre esse teatro ligeiro, olhar atento e cuidadoso, com absoluto rigor científico. Filomena Chiaradia se inscreve nesse elenco de bravos heróis com uma diferença e uma qualidade. Aborda o perseguido gênero alegre por um novo ângulo.
Seu mérito não está só em dignificar o teatro musicado por meio de seus valores explicitamente nacionais, mas em descobrir, na exemplar Companhia de Revistas e Burletas do Teatro São José, o espaço privilegiado de experimentação de um teatro que se instalava ao gosto do público. Com um estilo brilhante e uma argumentação habilidosa, a autora passa pela história para nos mostrar um teatro totalmente voltado para a cena. Um teatro leve, empresarial, porém técnico, e que se constituiu em espaço efetivo para o exercício de escrever, representar, dançar, cantar, criar cenários e figurinos à nossa moda. Com esta leitura, o pequeno vira grande. O desprestigiado, prestigiado. A história nebulosa se clareia. Revelar que nosso passado teatral resiste ileso a análises metodológicas é o presente de Filomena Chiaradia.