A chegada de um novo presidente, após uma alternância de poder, alimenta as expectativas de reorientação das políticas do governo que se foi e de que novas agendas políticas sinalizem os tempos futuros. A posse do presidente Lula, 9.° presidente do Brasil eleito pelo voto popular e direto desde a redemocratização, mostrou, mais vez, que a alternância democrática é uma força motriz do presidencialismo brasileiro.
Mas essa foi uma transição presidencial singular e sem precedentes. A eleição polarizada, por margem estreita de votos, e a contestação da vitória do presidente deu sinais de que a transição presidencial estaria longe de ser pacífica. Resistências do então presidente Jair Bolsonaro (2019-2022) e de seus assessores em conduzir a transferência de poder, inclusive a recusa de passar a faixa presidencial, tornaram transição presidencial ainda mais custosa.
A despeito das regras disciplinando esse processo, o acesso às estruturas da administração federal pelas equipes de transição foi constrangido, elevando os custos de informação e de definição das prioridades para a agenda inaugural do novo governo. O dia 8 de janeiro de 2023, com os ataques violentos às sedes dos três Poderes da República, mostrou a disposição dos derrotados de ir além, de interromper inconstitucionalmente, o governo em seus primeiros dias. Como já observado em outros países, esse cenário não deixou dúvidas sobre a gravidade e os desafios colocados à transição presidencial após um governo radicalizado e extremista.
Mas a transição presidencial e as expectativas em relação ao novo governo foram ainda temperadas pela situação sem precedentes de um terceiro mandato, não consecutivo, do presidente eleito. De um lado, a experiência e expertise do presidente e dos assessores nas administrações anteriores foram vistos como ativos importantes diante do esforço de revisão de políticas e realinhamento das estruturas governamentais após a gestão Bolsonaro. De outro, indagações sobre quão novo e capaz o governo irá se revelar diante de desafios políticos e administrativos muito distintos daqueles vivenciados na era PT na presidência (2003-2016).
O livro explora vários desses desafios. Sob diferentes óticas, os autores propõem uma rica reflexão sobre as condições excepcionais em que o novo governo tem início, a partir de debates travados no Seminário “Presidente, gabinete e burocracias: o que a nova administração precisa saber”. O evento foi realizado pelo grupo Pex-Network, do Programa de Pós-Graduação em Ciência Política da Universidade Federal de Minas Gerais, no dia 21 de outubro de 2022, com o apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Os textos publicados foram revisados após o segundo turno das eleições de 2022, destacando os desafios da transições.